sábado, 3 de abril de 2010

CHICO E OS PRESENTES DE DEUS

Logo após o nosso Chico ter completado 80 anos de idade, fomos visitá-lo em sua casa. Acamado, devido a uma pneumonia ele recebeu-nos com alegria e a gentileza de sempre.
Em seu quarto, cercado de livros, Chico era o retrato da própria paz.
Em seus lábios nenhuma palavra de queixa.
Conversamos sobre diversos assuntos, embora a preocupação de não cansá-lo.
A cada momento, consultávamos o relógio, mas ele, falando pausadamente a contar suas histórias, não nos deixava sair, dando-nos a impressão de que não desejava ficar sozinho.
Vivendo praticamente solitário toda a sua vida, o que lhe permitiu o recolhimento necessário para psicografar os seus livros, a verdade é que Chico nunca gostou da solidão.
Enquanto a governanta da casa, Dona Enói, servia-nos um chá com sequilhos, chá que ele tomou em seu próprio leito, escorado em várias almofadas, notei que “Fofinha”, a cachorrinha pequinês, já cega, não se arredava de perto de Chico, como se estivesse a guardá-lo ciumenta ...
Foi nessa clima de tranqüilidade espiritual que, rememorando tantas lutas superadas, ao longo de uma vida extraordinariamente vivida no bem, o Chico falou-nos com seu habitual bom humor;
“- Deus tem me concedido “presentes” que, se a primeira vista parecem ter sido pesados, na verdade não o foram ... Aos 10 anos de idade, tive um enorme tumor no calcanhar que me impediu de caminhar por muito tempo; aos 20 sofri a chamada “doença de São Guido”, que muitas pessoas na época atribuíram aos exercícios da minha mediunidade; aos 30 fui considerado tuberculoso pelo médico em Pedro Leopoldo; aos 40, em conseqüência de uma grave retenção urinária surgiram vários tumores que se espalharam por todo o meu corpo; aos 50 veio a angina pectoris; aos 60 o infarto; aos 70 o problema da locomoção, complicou-se com uma pneumonia e uma “super angina” ...
Mesmo assim, eu não tenho o direito de dizer que os “presentes” que Deus tem me enviado são pesados... Eles foram e são leves, em favor de minhas necessidades de reajuste” ...

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